Representantes dos grupos que formam a Rede das Casas

Representantes dos grupos que formam a Rede Nacional das Casas da Cultura Hip Hop – Crédito: a Rede.

Rede Nacional das Casas da Cultura Hip Hop é a primeira cooperativa nacional de arranjos produtivos de cultura do país.
Por Bob Controversista (nome artístico de Eduardo Barbosa)
Em agosto de 2015, mais precisamente no dia 17 deste mês, foi formalizada a Rede Nacional das Casas da Cultura Hip Hop. Constituída por 16 Casas da Cultura Hip Hop e empreendimentos solidários espalhados por estados como Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Parana, Pernambuco e Espírito Santo. Tornou-se oficialmente a Cooperativa de Arranjos Produtivos e Comercio Justo e Solidário Rede Nacional das Casas da Cultura Hip Hop, pautada pelos preceitos da Economia Solidária e é a primeira cooperativa nacional de cultura.
Bob Controversista, primeiro Presidente Nacional da Cooperativa #RedeDasCasas e um dos gestores das várias Casas que compõe a Rede das Casas do Hip Hop, acredita que a conquista é bastante significativa para a Rede. “Na prática, a gente cria condições de ampliar os arranjos produtivos entre os empreendimentos da rede, cria condições para avançar na autogestão das Casas com mais autonomia, haja visto que a maioria delas tem parcerias com o poder público, o que ceifa a independência, no sentido de tomadas de decisão. E o mais importante, é ter amarrado por meio da Carta de Princípios e do Estatuto, o ser humano e o meio ambiente como centro desse processo de autogestão”, afirma.
Controversista, que além de gestor da Rede Nacional das Casas do Hip Hop é também coordenador do Ponto de Cultura P de Protagonismo, em Guarulhos e educador popular há 15 anos, acredita na capacidade geradora de renda da Economia Solidária. “A Economia Solidária traz a concepção de arranjos produtivos com sustentabilidade e colaborativismo para gerar emprego e renda. Sem hierarquizar ou fomentar a concorrência crua entre os coletivos e sim, criar condições para que as pessoas possam sobreviver de maneira igualitária e justa dentro da Rede”.
UB Inauguração Casa Hip Hop Bauru Credito Ricardo Santana

Crédito: Ricardo Santana

Para Controversista, hoje também Diretor de Cultura da UNISOL São Paulo, projeto primeiro do processo de federalização da UNISOL Brasil – Central de Cooperativas e Empreendimentos Solidários, a Economia Solidária é antes de tudo, uma estratégia. “Trata-se de uma perspectiva de olhar para o país e para o seu desenvolvimento não mais baseado na concentração em grandes empresas e multinacionais, mas uma economia que vai além de produzir bens e riqueza para alguns. Ou seja, uma economia focada no ser humano e nas necessidades locais, respeitando as culturas tradicionais e as perspectivas comunitárias de cada região do país. Para nós, é uma estratégia de desenvolvimento fundada no respeito à vida e às pessoas, sendo produzida e comercializada por meio de bancos e poupanças, todos de forma coletiva e autogestionária, voltado para a perspectiva do desenvolvimento local”, reafirma.
A UNISOL Brasil é uma central de representação de coletivos e empreendimentos que tenham como fundamento a autogestão coletiva de seus negócios. A Central ajuda a estruturar projetos, editais e parcerias com entidades e universidades dentro e fora do país.
Para Controversista, a Economia Solidária enfrenta a crise com geração de renda e possibilidades. “A Economia Solidária passa ilesa nesses momentos de crise à medida que avança nas cadeias produtivas com consumo sustentável e regrado pelos empreendimentos, inclusive fazendo a economia capitalista girar num processo de desconstrução constante”, observa.
Para o educador popular, uma rede de arranjos produtivos como a Rede Nacional de Casas do Hip Hop, a primeira cooperativa nacional de cultura do país, representa um avanço significativo na organização de um novo modelo de negócio no Brasil. “Trata-se de uma rede de produção, distribuição e gerenciamento orgânico, somando expertises, conhecimento de mercado e plano de negócios, alinhados com a economia solidária. Assim, forma-se um arranjo produtivo que fazem os produtos girarem interna e externamente, pois o mais importante é dar vazão aos produtos do universo Hip Hop que o mercado capitalista normalmente não absorve”, analisa. Uma das vantagens da formalização da Rede Nacional das Casas do Hip Hop, seria ainda, segundo Bob, um modo de sair da produção como atividade-fim para passar a gerenciar todo o processo.
UB Encontro de grupo parte da Rede Nacional das C Cult Hip Hop Credito Facebook Rede

Encontro reinaugura Casa do Hip Hop de Bauru – SP – Crédito: Rede das Casas de Culturas Hip Hop

Dentro desta lógica, produzir e comercializar um CD ou uma camiseta com temáticas relacionadas ao Hip Hop deixaria de ser uma atividade puramente lucrativa para ser também uma atividade empoderadora dos pequenos empreendedores sociais. “Ao invés de comprar camisetas de uma grande fábrica, compramos de pequenos empreendedores locais, estampamos nós mesmos e vendemos nas nossas próprias lojas”. Desta maneira, o processo de empoderamento é crescente e horizontal, além de se estender para todos os produtos gerados pela Rede.
A Coop. #RedeDasCasas também desenvolve cobertura do maior encontro da Economia Solidária do Brasil. Estivemos nos dias 25, 26 e 27 de novembro de 2015 em um dos maiores encontros de militantes da economia solidaria, cooperativismo e associativismo do Brasil, o 4º Seminário Nacional da Economia Solidaria – 4º Seminário da UNISOL São Paulo e 4º Congresso Nacional da UNISOL Brasil. As atividades aconteceram no Hotel Braston, em São Paulo, com delegações de dezenas de cidades de 21 estados da federação. Os três dias tiveram a cobertura de comunicação colaborativa desenvolvidas pela Cooperativa de Arranjos Produtivos e Comercio Justo e Solidário Rede Nacional das Casas da Cultura Hip Hop, a TVT, RC Comunicações e Design Possível
Com o desenvolvimento deste trabalho, foi colocado na pauta das discussões sobre os conceitos e narrativas da economia solidaria as Culturas e as Tecnologias como grande vetor econômico e potencializador das necessárias transformações locais e inclusão com geração de trabalho e renda. Para homens e mulheres e sobretudo, as juventudes em alta e muito alta vulnerabilidade social.
Apesar de o nome ter sido criado no Brasil, economia solidária é um movimento que ocorre no mundo todo e diz respeito a produção, consumo e distribuição de riqueza com foco na valorização do ser humano. A sua base são os empreendimentos coletivos (associação, cooperativa, grupo informal e sociedade mercantil). Hoje, o Brasil conta com mais de 30 mil empreendimentos econômicos solidários (EESs), em vários setores da economia, com destaque para a agricultura familiar. No entanto, a Cultura Hip Hop desde sua nascença já praticava e pratica estes princípios, mas, entre tudo, sem a devida sistematização e entendimento de que na sua lida desenvolve e potencializa ações econômicas solidárias.
Estes EES geram renda para mais de 2 milhões de pessoas e movimentam anualmente cerca de R$ 12 bilhões, porem esta conta seria muito maior se colocássemos outro setores da economia solidaria como provedores e geradores da economia, principalmente a culturas, que em pequenos, médios e grandes eventos movimentam fortemente as economias locais, levando novos consumidores para os bairros mais afastados dos grandes centros, desenvolvendo um enorme gama de produtos da sua cadeia produtiva, informando e formando na troca outras possibilidades de consumo responsável, comercio justo e solidário.
Este movimento surgiu no Brasil a partir da década de 80, com as Posses da Cultura Hip Hop (posse = organismos de base que trabalham na pesperctiva da organização, politização e desenvolvimento da Cultura Hip Hop de forma autossustentável e nas periferias das grandes cidades). Nelas, MC’s, Escritores (as) de Graffiti, DJ’s e B. Boyngs e B. Girls, trabalhadores e trabalhadoras das periferias das grandes cidades, visavam combater as violências do estado, a miséria e o desemprego gerados pela crise oriundas de governos burgueses pós ditadura militar. E se transformou em um modelo de desenvolvimento que promove não só a inclusão social, como pode se tornar uma alternativa ao individualismo competitivo das sociedades capitalistas e mais uma vez a cultura tem um destaque neste processo.
Mas por se tratar de um, ou vários produtos no campo do intangível, ainda não ganhou a necessária atenção. Porém, estamos mudando esta concepção e com isso ampliando o diálogo com outras instâncias de produção. E para que existe uma Cooperativa voltada para as questões e públicos das Culturas? Segundo Bob Controversista, um artista orgânico é um intelectual orgânico, conforme explica Gramsci. E é orgânico por está organicamente ligado à sua classe. Ele produz cultura conscientemente para sua classe. No entanto, os elementos que os ligam organicamente a sua classe são os movimentos e os partidos. Alguns honestamente, mas, equivocadamente, defendem a não politização da cultura e sua independência política e consequentemente econômica. Nós não pensamos assim.
Bob Controversista. Crédito: o próprio.

Bob Controversista. Crédito: o próprio.

Queremos que as organizações de Hip Hop sejam suprapartidárias sim, mas, a independência que defendemos é em relação aos governos, aos empresários e a mídia comercial burguesa (Leia-se P.I.G.). O Hip Hop que tanto jurou independência política a periferia está sendo instrumentalizado pelos governos e pelo grande capital. Nesse sentido, queremos avançar no debate apresentando a Cultura Hip Hop em Movimento Social e Político em Cooperativa Rede Nacional das Casas da Cultura Hip Hop, que pretende ser uma das alternativas para as juventudes que buscam se organizar em torno da Cultura Hip Hop e sua cadeia produtiva, tecnologias sociais, ativismo artístico e político e de insurgência contra o estado Militarizado e seus mantenedores.
Na rede, o poder pessoal, tradicionalmente vivido como poder sobre os outros ou sobre as coisas, se expressa como potência de realizar objetivos compartilhados. É claro que “a rede ‘simbiótica’, na qual todos os atores colaboram com uma obra comum em pé de igualdade e com zelo permanente, não existe, é ilusória”. O que há é um esforço individual e coletivo para a superação da cultura autoritária. Há uma permanente tensão entre as tendências competitivas e as que reforçam o compartilhamento e a cooperação.  Pode até soar como anarquismo, mas a real não é esta, a Rede Nacional das Casas da Cultura Hip Hop visa uma produção, distribuição e gerenciamento de produtos das vertentes da Cultura Hip Hop em Movimento Social comprometida com sua essência, comprometida com os descamisados do mundo, com os homossexuais, com as mulheres, com os pretos e pretas, comprometida com a humanização dos seres humanos e no entanto comunal, pois, por dezenas de milhares de anos a vida humana era comunitária, ou seja, comunal.
Você encontra a programação das atividades da Rede em https://www.facebook.com/Rede-Nacional-das-Casas-da-Cultura-Hip-Hop-841069562655270

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