Grupo noite quinta

Palestrantes, membro da Unisol (Ariel Fassolari, de camisa listrada azul) e do GPERT (Grupo de Pesquisa de Empresas Recuperadas por Trabalhadores)

A vivência das empresas recuperadas da Argentina e do Uruguai pode ser compartilhada e discutida durante a mesa “Apresentação de Experiências Internacionais de Empresas Recuperadas”, que aconteceu em 11 de dezembro, no Centro de Formação Celso Daniel, em São Bernardo do Campo, São Paulo. Na composição da mesa de discussões, estavam Plácido Peñarrieta, da Red Gráfica e Chilavert, da Argentina; Mario Daniel Barraco, da URUVEN, do Uruguai; Jorge Alberto Eredia, da Zanon, da Argentina e Hugo Guede, da Profuncoop, do Uruguai, além de ter os comentários e a tradução de membro do GPERT e de Ariel Fassolari, assessor da diretoria da Unisol Brasil e um dos organizadores do evento.
A primeira fala foi de Peñarrieta, comentando que para gerir o empreendimento o apoio da Universidade de Buenos Aires foi essencial e a instituição colabora para deixar em pauta este tema. Atualmente, a rede é composta por 18 cooperativas de trabalho gráfico, que, juntas, cobrem todos os processos da cadeia de valor da indústria, desde a concepção à finalização, passando pela pré-impressão, sistema de impressão plana e rotativa, rotogravura e flexografia.
A Red Grafica entrou sofreu com a grave crise em 2001 e em processo de recuperação em 2004, e é semelhante ao que ERS brasileiras enfrentaram, com a pressão da polícia, que queria retirá-los do interior da fábrica. Tivemos o apoio da comunidade e de outros grupos como os de trabalhadores da Zanon, para a resistência no galpão durante meses seguidos. “Assim, passamos a organizar o movimento de ERs, trocando informações, arrecadando mantimentos e fazendo articulação política. Uma preocupação sempre foi a de nos autofinanciar. Com um fundo próprio compramos uma máquina CTP”, relembra.
Em diálogos e encontros internacionais os representantes da Red perceberam outros setores organizados como o têxtil e algumas práticas que impulsionavam a gestão das ERs, como a formação de redes – rede dos fornecedores de papéis, onde as ERs se complementam: “Isso nos motivou na execução de políticas comuns para o departamento de compras, o armazenamento, a produção, as ações de qualidade, pesquisa e desenvolvimento, recursos humanos, treinamento e desenvolvimento, e planejamento estratégico, operacional, financiamento, vendas e marketing, melhorando os nossos custos”, ressalta Peñarrieta.
Barraco, da URUVEN, se recorda do ano de 1997, quando os cerca de 800 trabalhadores do curtume Midober decidiram ocupar a fábrica devido à falta de solução e de perspectiva diante do não pagamento dos salários e da negação das férias. Entretanto, nenhum trabalhador imaginava caminhar para a autogestão. Primeiro se concentraram em dar continuidade às necessidades de produção e só anos depois constituíram uma cooperativa. Aos poucos, foram fazendo acordos com outras cooperativas para o fornecimento de matéria-prima. Passaram por perda de clientes, boicotes e várias outras dificuldades.
Após mostrar um vídeo institucional da Profuncoop, empresa metalúrgica uruguaia, Guede comenta “que percebe semelhanças nas histórias dos companheiros”. No Uruguai, existe um fundo no Banco Nacional de Desenvolvimento (Banco de la Republica) deste País que destina 30% dos lucros para ERs autogestionárias, que são usados por muitas empresas desde 2011. Em comum, as ERs de várias partes do mundo tem a luta política, a desapropiação, a relação com a sociedade inclusive por meio de visitas das escolas e as atividades culturais.
Quarta empresa recuperada convidada, a Zanon é uma fábrica de cerâmicas argentina que lutou pela estatização com a administração operária, e contra as propostas do menemismo (palavra derivada de Carlos Menem, ex-presidente argentino e suas políticas neoliberais) de estabelecer cooperativas, que iriam fazer recair sobre os trabalhadores as dívidas das quebras empresariais de 2001. As cooperativas argentinas tiveram muitos problemas nos últimos 15 anos e esses cooperados perderam a força política. Mas com persistência, a Zanon pôde mostrar uma alternativa de organização que deu mais base para o movimento operário. O auge da ocupação de trabalhadores em fábricas argentinas com dificuldades ocorreu em 2001, com cerca de 10 mil trabalhadores, parte do processo de ocupação de cerca de 150 fábricas.
O processo de apropriação pelos trabalhadores do complexo industrial da Zanon foi concluído em janeiro de 2014, pela cooperativa Fasinpat, localizada na cidade de Neuquén, na Argentina. O trâmite na justiça argentina se iniciou em 2001, quando a fábrica foi tomada pelos trabalhadores para solicitar a sua expropriação. Em seguida eles começaram a renovar a linha de produção de cerâmica, obtendo uma linha de crédito lançada pelo governo nacional. Entretanto, o movimento para maior participação dos trabalhadores no dia a dia da gestão da empresa começou ainda na década de 80, tomando mais corpo durante os anos 90.
A trajetória da fábrica Zanon não se restringe apenas à produção e venda de seus produtos. Eles tem um papel na sociedade local. Participam de manifestações culturais e políticas, procurando reforçar a luta de movimentos sociais e também a defesa da Zanon e das empresas recuperadas. Os trabalhadores da Zanon são reprimidos pela polícia nestas manifestações, mas a população sempre os apoiou e assim eles puderam fortalecer a resistência e se envolver com atividades na comunidade ao entorno da fábrica, retribuindo este apoio.
“Damos importância às manifestações culturais de nossa comunidade. E seguimos com as mesmas regras dentro da fábrica, por exemplo, direito às férias, os trabalhadores têm planos de assistência médica, tem médico disponível durante o expediente, e procuramos manter a nossa relação com o sindicato da nossa categoria e com o sindicato geral, para ajudarmos a recuperar outras empresas (até agora são quatro recuperadas no setor ceramista com o envolvimento da Zanon) e também para pleitear subsídios do governo”, afirmou Eredia. A empresa mantém uma comissão de mulheres, uma iniciativa para diminuir os problemas do patriarcalismo.
O objetivo atual da gestão da Zanon é o de incorporar cada vez mais inovações tecnológicas para aumentar a qualidade e o nível de competição no mercado. A Zanon também procura melhorar a criação de empregos, aumentar a produção de bens e as exportações, entre outras propostas. “O fato é que até pagarmos o primeiro grande empréstimo estávamos passando por um teste de credibilidade. Depois disso, nos reafirmamos como empresa recuperada e pudemos ampliar os nossos objetivos”, concluiu.
Conheça um pouco mais sobre duas das empresas citadas nestes dois vídeos:
Profuncoop  http://youtu.be/qdfMYVETsoU e URUVEN http://youtu.be/wRGV6b2tQ2U
Fontes: Unisol Brasil, Jornal El País, e sites das empresas citadas.

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